quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O tempo é outro senhor!


Até bem pouco tempo atrás, antes de as mídias sociais virarem uma verdadeira febre, o fluxo de informações era basicamente o que o poder público permitisse sair. Sim, era, e ainda é, uma censura nem sempre velada, mas acontece.
A grosso modo, pode ser feito um processo evolutivo. Nos anos de chumbo, acontecia assim: os censores iam nos veículos de comunicação e diziam que não podiam dar a matéria da bomba que ia explodir em uma banca ou em uma escola em determinado horário. A notícia era censurada antes de acontecer.

Depois a censura passou a ser política, com os veículos não podendo apoiar este ou aquele candidato e, portanto, não deveria divulgar um evento em que a pessoa estivesse participando.

Por outro lado, a sociedade foi se organizando e ocupando os seus espaços, realizando manifestações, mesmo que pagando um preço alto, com vidas, perda de liberdade e, na minha opinião, o mais cruel de todos os castigos: ser degredado, mandado embora de sua nação e de perto das pessoas que se ama. Foi assim desde os festivais de música até as greves dos metalúrgicos em São Paulo, diretas já e, mais tarde, o Fora Collor.

Pode parecer romantismo, mas não é. Digo isso com a propriedade de quem brigou enfrentando a polícia pela meia passagem em meados dos anos 80, o comício das diretas, apoio à campanha dos professores e depois a luta pela democratização na comunicação, defendendo as rádios comunitárias no começo dos anos 90.

Enquanto isso, sempre que possível o poder constituído arranja um jeito de tentar dificultar o acesso da população às informações. Ultimamente era o poder econômico, tendo em vista que as verbas publicitárias tiveram suas fatias devidamente engordadas nos últimos anos e ainda é uma poderosa ferramenta para que os meios de comunicação ao menos dessem uma aliviada nas notícias, quando saírem.

Só que os avanços tecnológicos provocaram uma ampliação do acesso à informação, senão da maioria da população, mas ao menos nos setores mais críticos. Com o advento da internet, este processo se acelerou e ganhou proporções inusitadas após o surgimento das redes sociais.
O caso da derrubada de Rosni Mubarak, no Egito, e, localmente, no tétrico "então morra. morra", do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes.

O vídeo, inicialmente mostrado em uma versão editada de um minuto, mostra o quanto a arrogância e a prepotência de uma figura pública. Caiu na rede e logo virou o assunto das mídias sociais em Manaus. A Secretaria Municipal de Comunicação tentou consertar colocando o vídeo na íntegra e acionou os meios de comunicação para que a idéia de que as frases infelizes perdessem força ao se alegar que foram usadas fora de contexto.

Se Manaus tivesse uma internet de qualidade, o vídeo poderia ter sido mostrado no íntegra e não a versão editada. Na versão integral, o concerto saiu pior que o soneto. Ficou mais evidente a estupidez com que o prefeito trata seu eleitorado. Do ignorar os apelos dos moradores, que aguardavam até com alegria, e isto pode ser ouvido pelo ensaio de um "Amazonino, cadê você", passando pelo "não diga besteira".

E quem ver o vídeo na íntegra, vai perceber as contradições de Amazonino, que chega dizendo que não dinheiro, não tem lugar, não tem material, fez a besteira, e saiu prometendo que ia ser o pai daquela comunidade, que ia dar madeira, lugar e, por fim, dizendo que "quem vai invadir é o Negão". Mas essa análise só se torna possível porque ao dar acesso à informação completa, deu a opotunidade de encaminhar a veículos de comunicação da chamada grande mídia, ganhando repercussão de proporções nacionais e mundiais.

É uma pena que o Amazonas, um estado que traz em seu currículo algumas conquistas consideráveis como ter sido o primeiro estado a abolir a escravidão quatro anos antes de a Princesa Isabel assinar a lei Áurea, o primeiro a fazer uma greve no país, o primeiro a ter iluminação pública, a ter um cabo transcontinental ligando Manaus a Londres para ter a cotação da borracha, ainda tenha que depender dos veículos de massa de São Paulo e Rio de Janeiro, para que estes desmandos e rompantes de arrogância e prepotência sejam mostrados.

Após as mídias sociais, os meios de comunicação, sobretudo os provincianos, têm que se reinventar e se adaptar a esta nova realidade. Mais ainda quando o acesso à internet, que hoje pode ser feito pelo telefone celular, for popularizado. O morador desabrigado da Zona Leste dirá, via tuíter, para o prefeito ou governador: O tempo é outro senhor!

Um comentário:

  1. A disponibilidade de divulgação a cada passo que se dá; hoje permite que as queixas sejam divulgadas na velocidade da luz ( e não é força de expressão).
    Mitos começam a ser derrubados mundo afora e a cada dia se avança na direção dos direitos sendo respeitados.

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