segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Como Manaus se tornou sede da copa do mundo

Este post foi originalmente publicado em www.oavesso.com.br/omalfazejo


A escolha de Manaus como sede da copa antecede a atual gestão do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, por conseqüência, a do presidente da Federação Amazonense de Futebol (FAF). É uma prova de como andam entrelaçados os interesses políticos e os esportivos são deixados de lado.

Teixeira domina com mão-de-ferro o futebol brasileiro há muito tempo. Distribuindo mimos aos presidentes de federações mais periféricas como a do Amazonas e atendendo aos interesses das mais abonadas como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul, se reelegeu com facilidade e fez algo um pouco mais grotesco, do ponto de vista jurídico e ético.

Com o mandato expirando em 2012, terá ele automaticamente extendido até 2014. Isso foi decidido em 2007, quando da última eleição realizada durante a Aseembléia Geral da entidade. Os outros dirigentes, incluindo o do Amazonas, copiaram a fórmula e também tiveram seus mandatos igualmente dilatados. Teixeira argumentou que uma mudança de comando poderia alterar o calendário estipulado pela Fifa para ter o seu caderno de intenções estipulados aos países, e por conseqüência as cidades-sedes, atendidos.

Já se sabia, antes mesmo do mundial de 2006 na Alemanha, devido ao rodízio de continentes imposto pela Fifa para sediar as copas, que sairia do continente americano o país-sede de 2014. Os atentados de 2001 aos EUA os tiraram do páreo no quesito segurança. Disputar com a Venezuela seria pule de dez para o Brasil vencer este páreo fácil. Teixeira, raposa felpuda e melhor cria de João Havelange, tinha conhecimento disso e pensou em se manter no poder um tempo mais.

Com esta informação na mão e com os votos de todos os presidentes de federações no bolso, Teixeira não teve dificuldades em fazer as mudanças necessárias no estatuto. Francisco das Chagas Valério Tomáz, o Dissica, também querendo ganhar alguns pontos no cenário político do Amazonas, se articulou com o governador Eduardo Braga para que Manaus fosse sub-sede. Com o discurso de ecologista de primeira linha, aproveitando a fama de pólo industrial sem chaminés, e portanto não poluidor, e mais o fato de não se ter investido no interior nada nos últimos 43 anos, daí o baixo índice de desmatamento, não foi difícil formatar o discurso de esta ser a Copa Ecológica.

Não à toa Braga foi defender a candidatura, única aliás, para o Brasil sediar a copa de 2014, na Suiça. Manaus já estava definida como subsede. Isto já tinha virado moeda de troca. Em 2008 houve apenas a homologação da escolha. Mais motivo para gastar uma fortuna em uma campanha de publicidade desnecessária. Como se ainda houvesse alguma dúvida de que Manaus não seria subsede. Talvez não seja, mas não por falta de manobras políticas para isto se tornar realidade. Talvez Manaus não seja em função do não cumprimento das exigências da Fifa. Mas isto, pouco vai importar para quem já amealhou uma pequena fortuna em alimentar as frustrações deste povo amazonense.


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